Estava curiosa para compreender o processo de aprendizado de uma criança estrangeira, de 9 anos, em uma das minhas turmas. Fui surpreendida ao pedir que ela comentasse sobre a experiência de estar aprendendo algo novo, diferente da cultura de seu país de origem, quando ela me disse - "estou fazendo buraquinhos na janela!"
Fiquei ainda mais curiosa e aos risos pedi que ela me explicasse mais sobre essa teoria.
Eis que ela sorrindo ainda mais, me disse:
-"É que a janela do meu quarto fica embaçada no inverno e pra eu enxergar o que está do outro lado eu brinco de buraquinhos fazendo mais "arzinho" com a boca e desenhando com meus dedos várias bolinhas e, em cada bolinha que desenho vou brincando mais e posso ver como está a rua e as árvores e os passarinhos e vejo se já posso sair pra brincar lá fora", assim voltou saltitante pra roda ao ver e ouvir minhas risadas, como se tivesse compreendido o ponto exato da minha surpresa.
Daí pensei como poderia aquela teoria ter tanto de obviedade... E pensei também que ao crescer, nos tornamos adultos deixando de fazer nossos buraquinhos na janela, muitas vezes aceitando o embaçado delas, sem nos darmos conta do que fica de fora do alcance dos nossos olhos. Passamos a ignorar a forma e o colorido da primavera e o deserto do outono, concluindo que: ao desembaçar as janelas, damos sentido às cores que mudam a cada estação, embora a paisagem continue a mesma.
Se o que enxergamos é o que queremos ou o que verdadeiramente é?
É outra história....
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